Retornando às Origens da Comprensão sobre o Céu e sobre a Terra.....

Retorno ao Passado Longínquo

Janine Milward

 Em tempo: Esta foi uma palestra por mim realizada ainda nos anos noventa do século passado, num casarão da Gávea, numa bela e ensolarada tarde de inverno no Rio de Janeiro.

Não posso conceber o estudo de qualquer questão sem a referência do conhecimento astronômico primordial. Assim, estarei convidando você para uma meditação em imaginação ativa...

Sinta-se tranqüilo, feche seus olhos suavemente, descontraia todo o corpo, imagine que você está confortavelmente sentado em seu tapete voador e deixe que sua mente e coração dirijam seu corpo e seu espírito.... para tempos longínquos do passado da humanidade, quando os homens viviam em cavernas, protegendo –se uns aos outros das situações perigosas e ameaçadoras do mundo exterior; homens que ainda não conhecem o fogo, bastante primitivos realmente.

Você chegou na caverna? Fique por alguns segundos interagindo com essa cena, fazendo parte desse conjunto.... Agora você vai sair da caverna, porque é dia , o sol brilha lá fora e é preciso enfrentar o meio ambiente hostil que, no entanto, é também o seu meio ambiente de vivência cotidiana, sua fonte de alimentação e de luz.

Você e sua tribo passam o dia buscando raízes e plantas comestíveis – porque ainda não existe o fogo. O fogo faz falta, não é verdade? Volte para dentro da caverna e prepare-se para a noite. Frio, não? Muito frio e escuridão, é tudo o que você consegue perceber. Bem, pelo menos, dentro da caverna, junto aos outros de sua tribo, você se sente um pouco mais seguro e também quase certo de que os animais ferozes não virão atacá-lo e que o vento cortante não adentrará a caverna escura e úmida. No dia seguinte, o sol aparecerá novamente, a vida seguirá igual, e assim será durante muito, muito tempo...
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Muito tempo se passou.... e agora você se encontra ainda dentro de uma caverna, sim, porém existem alguns gravetos no chão com uma chama indecisa tremulando: o fogo! Deixe-se envolver por essa nova atmosfera que você faz parte: uma pequena luz ilumina os rostos das pessoas da tribo que se movem, se movimentam com maior facilidade, ouvem-se mais vozes, uns cuidam do fogo, outros olham para ele, outros procuram uma forma de dar mais sabor às raízes colhidas ou mesmo aos pequenos animais caçados colocando-os por entre as brasas quentes...

Você agora se sente melhor, não é mesmo? Também uma fogueira pode estar ardendo do lado de fora da caverna para bem melhor espantar os animais ferozes e o frio.... Também você pode ficar por um bom tempos lá fora, olhando em redor, as sombras noturnas, a mata falante, as luzes piscantes, lá no alto, lá no céu.... a lua, acolhedora e iluminada, deixando sua luz espraiar pela campina.

Penso que seja possível se intuir uma certa sincronicidade entre o tempo da descoberta do fogo e o tempo que marca o início da compreensão da relação céu e terra, compreensão esta realizado pelo homem que se coloca no caminho do meio entre o céu e a terra: é o religare, o ligar o céu à Terra e a Terra ao céu, os primórdios da religiosidade e da compreensão científica e espiritual do universo: ciência física e ciência metafísica abraçadas, enlaçadas, para sempre.

O fogo trouxe ao homem a possibilidade da criação e isso o fez sentir-se semelhante ao sol, ao criador, ao doador de luz. Também o homem, ao trazer o fogo para dentro de sua noite interior, para a caverna onde vivia, na verdade estava trazendo o sol, a luz, para iluminar sua escuridão interna. A noite interior, com sua lua, pode ser entendida como o inconsciente e o dia exterior, com o sol, como o consciente. Da noite do inconsciente, o homem saiu para o dia do consciente. E pôde, fundamentalmente, lidar com estas duas circunstâncias por si mesmo, sem precisar necessariamente ser regido pelo dia e pela noite - de dia fora da caverna e de noite, dentro da caverna para viver seu longo dia de vida a cada dia, a cada noite.....

A noite interior, com a lua e as estrelas, pôde então ser observada exteriormente porque agora existe a fogueira que traz o calor e afasta os animais indesejáveis. O homem pôde sair de sua caverna à noite.

Existe, então, uma inversão de valores: a caverna, que significa a noite interior, o inconsciente, recebe a tocha do fogo – o sol, a luz do fogo. E a noite real fora da caverna - noite com seu manto de estrelas e lua -, recebe a fogueira do sol, do consciente, da compreensão, do saber, dos curiosos olhos dos homens de outrora.

A interligação entre o inconsciente e o consciente começa verdadeiramente a partir da descoberta do fogo.

Agora, em sua meditação, você pode perceber esse sentimento do homem vivendo sem o fogo e do homem vivendo com o fogo. Deixe-se levar por esses sentimentos tão ambíguos, tão dicotômicos, tão avassaladores.... quem sabe agora você poderá se encontrar com Prometeu.

Você se lembra de Prometeu, não é verdade? Ele é o herói mítico que roubou o fogo dos deuses e presenteou-o aos homens e que, por isso foi punido, acorrentado a uma pedra, tendo seu fígado devorado por um abutre durante o dia e recuperado durante a noite, num processo sem fim, interminável, até que finalmente foi libertado por Hércules que havia negociado com Júpiter a troca da imortalidade de Prometeu com Quíron, o centauro mestre e sábio, porém terrivelmente dolorido em sua ferida no tornozelo. Quíron foi então levado para as estrelas, lá formando a constelação do Sagitário ou quem sabe, a constelação do Centauro que rodeia nosso Cruzeiro do Sul... e Prometeu, liberado de sua punição, tornou-se imortal - imortalizado pela raça humana que, por seu presente do fogo, tornou-se poderosa.

O fogo, que apenas pertencia aos deuses como triunfo e glória de seu poder e sabedoria, foi, através de Prometeu, definitivamente passado aos homens, que o adotaram também como símbolo de poder, sabedoria e sobrevivência e mais ainda, de independência da subjugação aos deuses, levando-os a assumirem sua busca para se tornarem heróis. Foi o início da jornada dos heróis. O herói é aquele que procura seu lugar de semideus dentro de sua jornada de encarnação, sua Samsara, sua Roda da Vida. Seu lugar de semideus é seu lugar de Homem que adquiriu sua consciência, que vivencia sua mente, que expande seu universo a partir de sua busca de compreensão desse mesmo universo. O homem é aquele que procura – e encontra – a expansão de sua consciência. O Homem é aquele que vivencia sua vida na busca da expansão infinita e ilimitada de sua consciência e nela habita.
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Voltando aos tempos da caverna, agora estamos do lado de fora da caverna, olhando para o céu. É noite, podemos ver a lua crescente com seu brilho, sua luz se espraiando pela terra, seu allbedo. Uma luz suave e terna, porém quase tão poderosa quanto a luz do sol, iluminando radiantemente os campos e florestas quando é tempo de lua cheia!

É interessante a gente notar que os discos, em diâmetro aparente, do sol e da lua são quase do mesmo tamanho! E mais interessante ainda, é podermos perceber que existem dias, sem mais nem porquê, que de repente, não mais do que de repente, o sol vai sumindo, sumindo até sumir por completo, sendo encoberto pelo disco da lua! O eclipse total do sol sempre foi um momento de surpresa bem como de temor.... será que a lua, ou o dragão ameaçador, engoliu o sol?

Voltando à  noite do lado de fora da caverna, podemos também ver os pontinhos de luzes piscando – ou não - no céu: tudo ainda parecem ser estrelas.... mas certamente dentre essas luzezinhas insistentes e sorridentes, uns poucos são os planetas visíveis...

A cada noite que passa, a lua vai galgando por mais um bom pedaço de céu, e também vai inchando, inchando, assim como uma mulher grávida incha. E a cada noite ela vai iluminando mais e mais, mais e mais, e subindo cada vez mais alto no céu (lua crescente), e aparecendo cada vez mais cedo, antes ainda do dia terminar, o sol se pondo, se escondendo de um lado e a lua já nascida, ou nascendo, do outro lado... até que um dia ela chega mesmo um pouquinho depois que o sol se pôs, como se quisesse fazer um equilíbrio bem balanceado com ele: é a lua cheia! No dia, ou noite de lua cheia, a alegria na tribo é grande, é possível se ficar fora da caverna durante a noite inteira e quem sabe, até se aventurar pelas matas, em busca de caça ou entrar nas águas do rio para pescar os peixes indolentes e sonolentos na madrugada...

No entanto, as noites vão passando atrás dos dias, e a cada noite, ela, a lua, chega cada vez mais tarde, cada vez mais tarde, tão tarde que nem dá mesmo para esperar por ela..... até que podemos vê-la já durante a manhã, já antes ou mesmo depois que o sol já despontou, caída, resvalando para o lado onde o sol se esconde todos os dias... Noite após noite, ela chega mais tarde, um dia bem no alto do céu e murchando, como uma metade apenas (a lua minguante) até que chega a noite que a lua aparece um pouquinho antes do sol nascer, um pouquinho antes mesmo, como um fino anel, já anunciando que irá se encontrar com o astro-rei em breve, amanhã ou no máximo, depois de amanhã, abrindo o novo tempo iniciado pela lua nova A lua nova é o casamento do sol com a lua...

Um ou dois dias depois que a lua desaparece por inteiro do céu, eis que surge novamente, como um fino anel, acompanhando o sol em sua caída no horizonte oeste, após o poente, no início da noite...
(Dizem que os homens antigos, ao se depararem com essa lua fina como um anel logo após o pôr do sol, molhavam seus dedos com o saudável cuspe de suas bocas pedintes, e abriam suas mãos com os dedos voltados em direção à lua nova, fazendo seus pedidos para durante aquele novo ciclo que teve seu início).

Então nos apercebemos que foram cerca de sete dias de sol para cada fase da lua. É o mês lunar. É o ciclo da lua... Assim como a mulher que engravida incha, tem seu filho e desincha e se prepara novamente para receber a semente de seu filho-a-vir.

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Deixemos a noite, e passemos ao dia, observando o passeio do sol pelos céus.... o sol nasce de um lado, anda alto pelo céu e se esconde do outro lado, e quando se esconde, entram as sombras alongadas, as nuvens avermelhadas e amareladas, a escuridão da noite que chega com seu manto de estrelas. Mas no outro dia, novamente o sol nasce daquele mesmo lado que nasceu ontem.... e o tempo da lua, das quatro luas, dos vinte e oito dias de sol – o mês lunar -, vai passando; entra dia, entra noite, entra dia, entra noite..... Entra tempo mais quente, entra tempo mais frio.... parece que nem sempre o sol aparece exatamente no lugar em que apareceu há quatro luas atrás, ou um mês lunar atrás..... A verdade é que, ao longo do tempo de mais calor ou de mais frio, o sol nasce e se põe em lugares diferentes, como se estivesse fazendo uma viagem entre mais para aquele lado até chegar o lado de lá, no tempo diferente a este que estamos.....

Esse é o trajeto aparente do sol através das constelações que se encontram em seu passo na Eclíptica, ou seja, o trajeto do sol durante o limite máximo do verão e do inverno, o ponto mais ao sudoeste e noroeste e nordeste e sudeste, para o ponte e para o nascer do sol.
Se bem lembrarmos, também o trajeto da lua vai realizando como se uma dança através dos céus.... e certamente bem mais rapidamente, ela vai avizinhando o trajeto do sol, a eclíptica, ao passear pelas constelações do Zodíaco....

Esse balé do sol e da lua, na realidade, nos traz os primórdios da inter-relação do homem com a terra e o céu. Essa inter-relação é tão intensa que faz brotar do inconsciente o desejo de nomear esse bailado de alguma forma, de objetivá-lo de alguma maneira.....

Os sábios chineses da antigüidade passaram o trajeto do sol para a terra nomeando-o de Rio do Sol, de Rio Amarelo e estruturando toda sua compreensão do universo apoiada no Mapa do Rio Amarelo, trazendo à tona os arquétipos primordiais e fundamentais do pai e da mãe, do sol e da lua, respectivamente, criados através do desejo de manifestação objetiva do céu e da terra, respectivamente.         

Também os outros povos antigos se apoiaram na relação sol lua para extraírem de seus inconscientes pessoais os símbolos arquetípicos do pai e da mãe, formando, dessa maneira, as bases do inconsciente coletivo da humanidade.

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Ainda estamos na caverna, ou melhor, do lado de fora dela e é noite. Hoje, é noite sem lua, noite de lua nova, lua desaparecida deixando-nos entrever um céu estrelado que nos maravilha, nos embevece, nos emudece.....

Novamente, noite após noite, estamos atentos ao céu noturno.... e começamos a notar que sempre aquelas luzes piscantes parecem correr pelos céus realizando uma parada, um desenho... as vezes, o desenho se parece tanto com aquele bicho que anda pelo chão vagarosamente e que não é nada agradável levar uma ferroada dele! O escorpião!

Olhamos para o escorpião no chão e olhamos para aquele grupo de estrelas no céu.... não se parece mesmo com o escorpião? Por que não chamar aquele grupo de estrelas de Escorpião?

Nem sempre o escorpião está nos céus. E mesmo quando está nos céus, vai andando, andando, andando, noite adentro, como se mesmo fosse um escorpião dos céus, até que desaparece em sua toca e por lá fica um tempo.... assim como o escorpião da terra!

Continuamos olhando para o escorpião dos céus e de repente, nele vemos adentrando um ponto de luz que antes não estava ali.... esse ponto de luz vai entrando, entrando, andando, andando, andando.... tem um momento que parece parar e até pára mesmo, até que então começa a andar para trás, voltando pelos lugares por onde passou até que novamente pára e desanda a andar para a frente novamente, marchando constelação acima..... e continuando seu andar em direção aos outros desenhos de luzes piscantes.....

A verdade é que nos apercebemos que essas luzes errantes estão sempre se movimentando, sempre se movimentando, algumas mais rapidamente e outras menos rapidamente, mas sempre se movimentando.... Não são muitas, às vezes somente uma aparece quando a noite cai, as vezes duas, três, até quatro, muito de vez em quando.... pensando bem essas luzes errantes são um tanto diferentes das outras tantas luzezinhas que piscam e piscam e que formam desenhos e grupos entre si e que caminham sempre juntas, em conjunto, céu acima, céu abaixo, aparecendo grande parte do ano, sumindo outra grande parte do ano, reaparecendo de manhãzinha, antes do nascer do sol, sempre andando um pouquinho mais em frente, rumo oeste, um dedinho mais, a cada noite, depois que o sol se escondeu....

Voltando às luzes errantes, elas, na verdade, não pertencem mesmo ao desenhos ou grupos das luzezinhas piscantes! Elas são independentes, solitárias, e não piscam! Não piscam! São os planetas.... Se olharmos bem, até poderemos perceber que esses pontos de luz que não piscam e que andam, como aventureiros errantes pelos céus afora, também estão bem mais próximo a nós do que todas as outras luzezinhas piscantes formando desenhos e se movimentando em conjunto harmonioso e silencioso contra o pano de fundo da escuridão do céu....

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Quanto tempo se passou desde que começamos a prestar atenção nas luzes piscantes e não piscantes do céu.... ou mesmo, antes, bem antes, ainda, quando começamos a prestar atenção na lua e no sol, seus trajetos, idas e vindas, ocultações, sombras e luzes?

Certamente muito, muito tempo se passou, homens e mulheres da tribo nasceram, viveram e morreram e foram deixando suas histórias sendo contadas pelos mais velhos, passando de pai para filho, para neto, de ano para ano, de década para década, de século para século, de milênio para milênio... Apenas sabemos todos que "quem conta um conto aumenta sempre um ponto"... então, a cada vez que uma história era recontada, algo mais lhe era acrescentado, alguém da tribo havia percebido mais alguma coisa nova, um pequeno ítem a ser somado..... Foi se criando uma expansão, um alargamento por assim dizer, do inconsciente pessoal e consequentemente, do inconsciente coletivo e, certamente, do consciente.

A religiosidade - o religare o homem entre a terra e o céu – foi se tornando cada vez mais concreta, mais sábia, mais ampla, criando moldes de vida, as leis da terra e do céu. Também a religiosidade foi se concretizando nas paredes das cavernas através dos dedos lambuzados de sangue dos animais abatidos para saciar a fome da tribo ou para a proteção da mesma. Esses desenhos, aparentemente, ainda não eram documentos históricos da sociedade da época e sim eram imagens de religiosidade implorando ao pai-sol e à mãe-lua, ao pai-céu ou à mãe-terra, que sempre lhe trouxessem a comida da sobrevivência e a proteção da vida daquela tribo, daquela sociedade em seus primórdios....

Dessa forma, não apenas a mãe-terra ou mãe-lua, ou o pai-céu ou pai-sol penetravam no inconsciente dos homens criando os arquétipos divinos do homem e da mulher, como também as outras forças da natureza eram observadas e divinizadas e arquetipalizadas e simbolizadas através do desenvolvimento da religiosidade dos homens de outrora.

Essa religiosidade primitiva se estrutura tão somente no anseio interior de que o homem possa sobreviver por mais um dia, por mais uma noite, por mais um tempo e a conseqüente súplica – já ao seu ser superior interiorizado – para que isso seja, por favor, providenciado e carregado até o Tao pelas forças da natureza..... Surgem os deuses e semideuses, as divindades..... E, quem sabe por serem o sol e a lua, e também as estrelas, tão permanentes, tão sempre iguais e perseverantes em seu rumo e sua aparição no cenário da vida – ou talvez por serem tão distantes de nós, humanos, e tão, aparentemente, sem os problemas e vicissitudes de nós humanos... tudo isso faz com que a religiosidade suba para os céus e lá habite – desde sempre e para sempre.

Assim, os luminares – o Sol e a Lua -, os pontos de luzes errantes – os Planetas – e os desenhos de luzezinhas piscantes - as estrelas em suas constelações – vão sendo nomeados a partir, primeiramente, da similaridade que formam com as coisas da terra.... e ao mesmo tempo, vão também sendo nomeados com os mitos, os símbolos, os arquétipos, as lendas, as histórias de religiosidade que vão surgindo do inconsciente e passados para o consciente com o encaminhamento do homem em sua própria história cultural e social.....

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Veja, como o tempo passou e você nem se deu conta! Agora estamos em Stonehenge, e fomos todos convidados a participar da cerimonia do solstício de verão, não é mesmo uma honra?

Você já esteve em Stonehenge, na Inglaterra?

(Eu, sim.... Eu voltava para Londres, juntamente com alguns poucos amigos, depois de termos ido tomar chá no campo nos arredores da Bach, uma cidadezinha bem medieval onde Urano foi descoberto em 1781 por Wilhelm Herschel, um organista alemão e astrônomo amador. No caminho de volta para casa, meio sonolenta pela viagem longa, olhei pela janela do carro e lá longe, vi, tomada pela surpresa da visão e alegria infinita, as pedras erguidas majestosamente formando o monumento circular de rara beleza e simplicidade de Stonehenge).

Esse lugar teria sido, certamente há mais de cinco milênios atrás, um templo erguido fundamentalmente para observações astronômicas e para a prática dos rituais sazonais que acompanhavam essas observações e esses conhecimentos acumulados e estabelecidos.


Bem, estamos agora em Stonehenge, prontos para vermos o sol nascendo exatamente atrás de uma pedra angular que aponta para o exato local onde o sol haverá de nascer nesse exato momento astronômico quando o astro-rei, aparentemente, em seu trajeto verão-inverno, atinge seu ponto máximo do sudeste... Seis meses mais tarde, se voltarmos a esse mesmo local para o solstício de inverno, poderemos ver a outra pedra angular onde o sol haverá de realizar sua aparição, atingindo seu ponto de andamento máximo do nordeste....

Também se tivermos a felicidade de sermos convidados a retornar durante os equinócios da primavera e do outono, veremos o sol se levantando atrás das pedras angulares que sinalizam o ponto do meio do caminho, o exato leste, por onde o sol passa em suas idas e vindas entre os pontos máximos do nordeste e do sudeste, ao seu nascente, no verão e no inverno. E no poente, o sol se pondo no ponto do exato oeste - entre o noroeste e sudoeste do verão e do inverno.

Ainda se passarmos o dia inteiro em rituais e cerimoniais, cantos, danças e comilanças – os festivais dos solstícios e equinócios – de tardinha, para o cair do sol, teremos a oportunidade de ver tudo isso acontecer novamente, através das pedras angulares dos pontos opostos - noroeste e sudoeste e oeste perfeitos......

Ao longo de um ciclo de andamento do sol entre os pontos máximos eqüidistantes, também poderemos observar o trajeto da lua, essa sim, a cada dia, a cada noite, passeado pelas constelações do Zodíaco, e mudando o ponto e/ou pedra angular por onde despertar e deitar. Bem como as estrelas, ao longo do grande ciclo anual, poderão nos informar seus pontos preferidos e intransferíveis de acordar e de dormir, por entre as pedras majestosas, silenciosas, generosas e protetoras dos segredos de Stonehenge....

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Voltando à nossa meditação, em Stonehenge acabamos de presenciar a vinda do sol que marca o tempo do solstício do verão, nos trazendo mais calor, mais alegria, mais colheita, mais amor....

Deite-se na relva verde esmeralda e observe como Stonehenge parece estar no meio de um imenso campo arredondado, tendo em seu horizonte longínquo, quase já na altura da curvatura da terra, um desenho de um azulado sutil formado pelas montanhas, os montes, os morros... Observe como a grama, a relva verdinha e bem-aparada pelo vento intermitente caminha até longe, tão longe que a vista apenas alcança a relva cor de esmeralda correndo, sem pressa até o delineado suave das montanhas - tão distantes quanto a própria curvatura da Terra....

Não parece um lugar perfeito, perfeito, imenso, grandioso, plano, totalmente plano, e rodeado de montanhas baixas na altura do horizonte... não nos parece que estamos exatamente no centro de um imenso aeroporto espacial e/ou de um lugar mágico, espiritual, de conhecimento da relação Céu e Terra?.........

Passaremos a noite aqui em Stonehenge... não para vermos naves espaciais ou anjos voadores, mas sim porque hoje, afortunadamente, é dia de lua cheia!

Pela manhã vimos o sol nascer através das pedras angulares que apontam para o solstício de verão, ao nordeste (não se esqueça que estamos no hemisfério norte!). Agora que o sol está caindo em seu lado oposto, atrás das pedras angulares do noroeste, podemos apreciar a lua nascendo por entre as pedras angulares do sudeste – aquelas que apontam para o solstício do nascer do sol quando da entrada do inverno no hemisfério norte... não é mesmo um raro momento de beleza?
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Respire fundo, bem fundo, inspire o ar ainda impregnado por essa visão mágica dos primórdios da astronomia, do encantamento dos rituais religiosos, pela inefável presença dos bons fluidos do templo-astrônomico de Stonehenge, da boa energia que os céus nos trazem....

Vagarosamente, vá retornando ao lugar em que você se encontra nesse momento - no gramado debaixo de algumas mangueiras e diante da ponte do grande lago, no Sítio das Estrelas..., vá abrindo sua escuta para os barulhinhos que o rodeiam, vá abrindo seu coração para saudar o tempo e o espaço de aqui-e-agora, vá abrindo seus olhos para o mundo de hoje.... porém deixando para sempre em seu coração gravados algumas das cenas e bastante do conhecimento que compartilhamos nessa nossa meditação em imaginação ativa.

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Bem, penso que estamos prontos, então, para compreendermos melhor sobre algumas questões não tão simples de serem entendidas se apenas as olharmos sob o ponto de vista mais racional advindo de nosso cérebro em seu lado esquerdo.  Foi exatamente por essa causa, caro Amigo das Estrelas, que eu trouxe a você o texto acima, praticamente uma meditação ativa, não é verdade?

A compreensão racional advinda do lado esquerdo do nosso cérebro não exatamente funciona a seu inteiro vapor, digamos assim, em tempos muito remotos.  A meu ver, teria sido a compreensão mais intuitiva, digamos assim, advinda do lado direito do cérebro, que perfazia a mente dos povos bem antigos, assim como descrevi no texto acima.

Suas percepções de compreensão acerca o mundo que acontecia ao seu redor lhes  aconteciam primeiramente a partir de uma compreensão ainda muda, ainda um tanto sem qualquer sentido, apenas um sentimento, uma intuição, um não-sei-o-quê de percepção simples e primordial.

Eu penso que o consciente ainda era um reservatório imenso porém contendo apenas algumas poucas questões - assim como se fosse, por exemplo, um imenso tanque de navio carregador de petróleo, contendo apenas dois litros de petróleo, depois três, depois dez, depois cinqüenta, depois cem....

À medida que o homem foi desenvolvendo sua mente, os conhecimentos que já moravam em seu consciente, iam sendo passados dos mais idosos para os mais jovens  - a partir do desenvolvimento de sua linguagem, naturalmente.

Como um exemplo simples:  havia um tempo no remoto passado, em que alguns homens ficavam a noite inteira rezando, implorando aos céus que lhes devolvessem o Sol!  Possivelmente, depois de anos, décadas, séculos de muita reza, veio aos homens a compreensão de que todos os dias - fizesse sol ou chuva - o Sol chegava!  E sempre chegava num mesmo lado do horizonte, e percorria o céu ao longo do chamado dia, e finalmente se escondia atrás do horizonte oposto aquele onde tinha aparecido!  Portanto, isso se tornou uma certeza.  Essa certeza tornou-se, então, uma Lei, passada enquanto conhecimento, de pai para filho, ao longo dos tempos. 

Existem, portanto, as certezas que fazem parte do Consciente e existem as certezas que fazem parte do Inconsciente e que precisam ultrapassar a barreira do Pré-Consciente para alcançarem a Consciência.

Com o desenvolvimento da linguagem, o homem pôde alcançar, para si mesmo, mais uma certeza: a de que as demais pessoas da tribo, de seu povo, traziam os mesmos conhecimentos à suas consciências. 

Ou seja: tudo aquilo que era sentido interiormente por um só homem, intuído, percebido ainda de forma bastante difusa e confusa..., também era percebido, sentido, intuído por seu Outro, pelas demais pessoas da tribo, de seu povo.  O Inconsciente pessoal passava a se tornar Inconsciente Coletivo! 

E, no momento em que esse Inconsciente Pessoal - mesmo que de forma difusa e confusa - veio à Consciência Pessoal de cada um dos membros da tribo (ou pelo menos, de alguns desses membros), tudo isso tornou-se Consciência Coletiva advinda do Inconsciente Coletivo.

A partir dessas premissas, o homem pôde então conceber as realidades manifestas do Conhecimento e as realidades não-manifestas do mesmo.  Tudo aquilo que pôde se tornar manifestado, teve que buscar uma forma mais concreta  - minimamente ou maximamente - possível de ser representada, imajada.

Daí nasceram as imagens, os Símbolos, os Mitos.

A Linguagem pode ser manifestada através das Imagens ou através da Escrita - ou outras formas de sua expressão, como a linguagem corporal ou concretizada através de objetos ou de circunstâncias da própria natureza, como um todo.

Quando estamos diante das 22 Cartas do Tarot, por exemplo, é certo que estamos diante de 22 Imagens extraídas do Inconsciente Pessoal agregado ao Inconsciente Coletivo e que veio à Consciência Pessoal, tornando-se então Consciência Coletiva através o Conhecimento dessas questões, conhecimento este manifestado nas 22 Imagens expressas nas 22 Cartas do Tarot.

As Imagens em si podem ser consideradas advindas do lado direito do cérebro.  No entanto, existe a necessidade da mente do homem de ‘dar nomes aos bois’, isto é, usar seu lado esquerdo do cérebro, e poder se expressar através a Linguagem Verbal ou Escrita, sobre estas mesmas Imagens.

Se você e eu, caro Amigo das Estrelas, nos pusermos diante das 22 Imagens representativas das 22 cartas do Tarot - que representam um conjunto totalizante de conceitos sobre a Vida -, estaremos cada um de nós, num primeiro momento, nos apercebendo interiormente acerca estas 22 Imagens, e num segundo momento, sentiremos, provavelmente, a necessidade de nos comunicarmos entre nós e de irmos expressando cada uma de nossas compreensões pessoais acerca aquelas 22 Imagens, não é verdade?

Em poucos minutos de trocas de comunicação entre nós, teremos certamente 44 Imagens diante de nós!  E não somente 44.... porque nossa compreensão pessoal interiorizada, advinda de nosso Inconsciente Pessoal, já tem a marca impressa da compreensão de milênios de mentes que já trouxeram suas compreensões acerca estas mesmas imagens antes de nós!  Portanto, nosso Inconsciente Pessoal já nos é inteiramente marcado pelo nosso Inconsciente Coletivo.  Eu diria que é como se fosse um processo de progressão geométrica do conhecimento - e por esta mesma razão, a humanidade chegou até os dias de hoje, dentro da civilização que veio construindo e que deverá ainda durar por um bom tempo, sem dúvida alguma, por todo o tempo que nosso Universo vier a acontecer, através o processo de vivências sucessivas, nas estrelas e na natureza como um todo, incluindo o homem e o desenvolvimento de sua mente.

(Em Tempo:  mais à frente, neste Trabalho, o leitor encontrará o Texto por mim traduzido Quem Herdará o Universo?, onde o autor comenta sobre o desenvolvimento da mente e a formação das Civilizações, não somente no Planeta natal mas também na evasão do homem à procura de outros lugares para viver, tanto em seu próprio Sistema Solar como em outros sistemas - e tudo isso gerado a partir de que tipo de energia o homem usa para sua sobrevivência.)

No entanto - ainda seguindo nesse fio de pensamento -, pelo fato de que o Tempo existe entrelaçado ao Espaço, isto é, Tempo e Espaço vão se ampliando conjuntamente, possivelmente num processo (quase) infinito, ao mesmo tempo em que eu e você possuímos, cada um de nós, um Inconsciente Pessoal aliançado ao Inconsciente Coletivo já vivente desde sempre..., estes mesmos Inconscientes Pessoal e Coletivo nossos nos são vivenciados  como se fossem algo que nos é apresentado nesse nosso aqui-e-agora, nessa nossa vida de encarnação atual!

(Em Tempo: mais à frente, neste Trabalho, o leitor encontrará o Texto por mim traduzido As Idades do Universo, onde o autor comenta sobre os três tipos de Universo e sobre qual tipo de universo vivenciamos: o fechado, o plano ou o aberto.

"De uma maneira geral, a ciência hoje nos leva a tendermos a acreditar que nosso universo seja o "aberto", ou seja, em sua infinita expansão nos traria a possibilidade de traçarmos todo seu destino, desde seu nascimento até sua morte (aparente)... desde que tal universo teria acesso a um tempo infinito - diferente dos dois outros tipos de universo (mesmo que muitos cientistas ainda aceitem o universo plano, em perfeito balanceamento entre massa e energia e gravidade próprias).")
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Vivemos num Sistema Solar onde o Sol possui cerca de 5 bilhões de anos... enquanto nosso Universo possui quase 14 bilhões de anos (13.7  bilhões, para sermos mais exatos).  Ou seja, nosso Sol é resultante de poeira de estrelas que já nasceram, viveram e morreram em explosão intensa!  No entanto, se olharmos hoje através nossos potentes telescópios, poderemos ver nosso passado, ainda infante diante de nossos olhos de aqui-e-agora: essa é a Simultaneidade do Universo.

Em Tempo: mais à frente, neste Trabalho, o leitor encontrará os Textos por mim traduzidos, Somos Poeira de Estrelas e o Tempo de Viagem da Luz das Estrelas, onde os respectivos autores  comentam:

Em Somos Poeira de Estrelas: “Entre todas as descobertas astronômicas do século vinte, a mais bela e poética também é uma das mais profundas: praticamente todos os elementos da Terra e em nossos corpos foram forjados pelas estrelas da Via Láctea. Portanto, cada ser humano deve sua vida à forjaria das estrelas da Galáxia.  Somos herdeiros das antigas estrelas.  Somos poeira de estrelas.”

Em O Tempo de Viagem da Luz das Estrelas: "É estranho imaginarmos que quando olhamos para o céu noturno estamos, na verdade, olhando para o passado longínquo; cada estrela que aparece não é como a vemos agora e sim como ela era cerca de centenas ou mesmo milhares de anos atrás. Em alguns casos olhamos para estrelas que enviarem suas luzes quando o homem ainda vivia nas cavernas. Cada estrela é uma pedaço de nossa história.”

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O fato de que nosso Inconsciente Pessoal é atrelado ao Inconsciente Coletivo e tudo isso vem até nossa Consciência Pessoal para se tornar Consciência Coletiva.... - essa constatação, essa certeza -, nos leva a crer que, mesmo com a constante mutação sempre acontecendo dentro da vida do nosso universo em seu aparente processo de infinitude, existe o conceito da Simultaneidade do universo e este conceito é a base estrutural de um outro conceito ainda anterior: a relação céu e terra, apresentada sob a Lei Assim como no Céu, é na Terra, ou seja, a Sincronicidade!

Com um abraço estrelado,
Janine Milward